quarta-feira, 20 de abril de 2016

Revivendo histórias no Peru

Chegamos em Cerro Azul, na casa da família Barreda que nos recebeu com muito carinho. Fomos parar lá porque os professors* há 40 anos atrás ficaram lá um tempo estacionados. As famílias mantiveram amizade e muitas histórias nos foram contadas nas rodas de fogueira no anoitecer. De dia era tempo de muito surf. Fomos abençoadas com um bom swell que nos fez pegar esquerdas que iam da pedra e passam o pier.
Depois partimos para Punta Hermosa, encontrar o João e a Sá* que chegavam para nos encontrar. Los dois patas (gíria para amigo no Peru) de longa data se encontraram, João e Mario Ginocchio. Mario nos levou para surfar em Punta Rocas no horário em que os big riders das antiga dominam o pico. Das 7 as 9 da manhã é o horário deles na onda mais constante do mundo, depois fica liberado para a galera. Neste dia o mar estava com dois metros e meio na série e era incrível ver aqueles sessentões colocando para baixo. Morremos de rir com o papo deles no outside, era sobre um que tinha tido gota, outra que estava com pedra nos rins, o outro havia operado... kkkkk. Como dizem, não existe envelhecer e esporte sem dor, o futuro nos espera.
Em Lima conhecemos a escola para crianças autistas Siempre Amanecer. Lá realizamos oficinas que mexeram muito com a gente. Pintamos um grande mar com as mãos na guache sobre um papel grande pardo, depois estendemos a nossa lona azul e nadamos e pegamos tubos com o skate sobre ela. Também fizemos uma música para as crianças e cantamos com eles. A idéia foi levar o amor que temos pelo mar para eles e eles absorveram com muita interação e sensibilidade.
E assim demos um até breve para a nossa Kombi, que ficou estacionada na garagem de amigos em Lima. Em breve seguimos em direção ao norte da Panamericana rumo à Califórnia.

*Os professors são o João, o Neco, o Tonho e o Tupi. Eles fizeram a viagem de Kombi que nos inspira em 1976. Não viajamos com o diário deles e vamos reconectando histórias.
*O João e a Sá são os pais da Antonia.






















Texto Christie Meditsch
Fotos Tz Jamur e Marcio Machado



Se despe e se agarra no que realmente importa

O Peru foi nosso destino final na primeira etapa do Projeto Rekombinando, a chegada a Lima carregava muita expectativa, pois lá íamos encontrar velhos amigos dos professors e reviver suas histórias. De Arica à Lima cruzamos por penhascos beirando o Pacífico e vimos nos baixos dos vales o verde da natureza aos poucos ganhando espaço no meio das áridas terras vermelhas.
A Lela retornou por uns dias para o Brasil, pois esta parte era muito incerta para nós e achamos mais seguro fazer sem ela. No lugar da nossa pequena ganhamos uma companheira cheia de sabedoria e alegria, a carioca que tem a Escuela de Surf Akua em Arica - Renée -  que foi na Kombi até Punta Hermosa.
Foram dias intensos de estrada, poucas ondas nos acompanhavam pelo caminho; então seguíamos dirigindo, atentas caso avistássemos alguma formação que valesse a queda. A estrada se afastou do mar e nos levou a Nazca, onde conhecemos uma cultura mais densa peruana com o artesanato mais expressivo e os mistérios das linhas feitas no período Pré-Inca.
A última parada antes de chegarmos aos arredores de Lima foi Paracas, uma reserva natural com 335.000 hectares, dividido em 35% de deserto de terra e 65% de água. Ficamos tão impactadas com a grandiosidade do lugar que dedicamos um dia a mais para explora-lo. Lá o milagre do surf não se deu pelas ondas, mas sim, por estarmos no mar e vivenciar um momento único: milhares de pássaros sobrevoavam em nossas cabeças. Eles formavam círculos no céu e começavam a voar em redemoinho e quando todos estavam em sincronia, despencavam como se fossem agulhas para uma pesca precisa. E nós ali, no meio do espetáculo.
Paracas nos deixou desnudas, tirou qualquer coisa que nos separasse da existência humana em meio a natureza, fez cair nossas amarras, e deixou que a luz da pureza do simples brotasse em nós. Foi um momento de busca por se despir das coisas loucas que a sociedade impõe.

























Texto Christie Meditsch
Fotos Tz Jamur e Marcio Machado