quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Siempre Arica

Saindo de Iquique o seguimos no rumo de Arica, extremo norte do Chile,  já na fronteira com o Peru. A esta altura já nos sentíamos parte do deserto e nos acostumamos a secura e a paisagem inóspita deste ecossistema.
Tínhamos feito contato com a Escuela de Surf Akua, fundada pela Renée, uma brasileira casada com um chileno que mora em Arica há 28 anos. Este contato surgiu através da Give Surf, uma organização chilena que apoia instituições que realizam ações sociais ligadas ao surf.  
Ao conhecer a René nos sentimos super familiarizadas com a sua energia. Uma mulher inspiradora, mãe de três filhos biológicos e mais uma trupe de crianças e jovens que aprende a surfar na Escuela Akua. Além das crianças que vão passar o verão em Arica e fazem aulas na escola, também são atendidas durante todo o ano crianças de orfanatos e lares sociais da cidade.  O mais legal é que muitas destas crianças cresceram surfando ali e hoje são instrutores de surf da escola!


 
Nos sentimos em casa e super honradas de realizar as oficinas com esta turma!  Rolou aula de surfe, slack line, mandala de meditação sonora,  construção de um jardim ecológico em pneus, pintura de placas de conscientização para a praia e uma atividade de foto montagem que foi demais! No final do dia todos felizes e exaustos ainda montamos um cinekombi na beira da praia para assistir ao filem chileno “El mar mi alma”. Foi muito especial e recompensador estar em contato com esta galera, sentimos muito envolvimento e principalmente força coletiva!

                    





    
     
                                 

 

               


Toda esta energia nos fez ficar mais tempo em Arica. Nos instalamos na casa da Renée por alguns dias, que nos recebeu junto a toda sua família linda, no Vale de Azapa, um  Oásis no deserto, aonde existem muitas plantações e agricultura familiar que abastece os mercados da cidade. Ali  encontramos sossego para trabalhar um pouco na edição das imagens, a Kombica recebeu um belo trato na oficina do David, marido da René:

          

Conseguimos até  curtir o Carnaval Andino, um evento que reúne várias comunidades indígenas em uma festa típica de Carnaval de rua. Foi maravilhoso ver as cores da América Latina reunidas na praça de Arica e poder ouvir as músicas e histórias  dos grupos que se reúnem a cada ano para saudar sua ancestralidade com tanta alegria!


                             

                             

    Arica também nos presenteou com boas ondas  para todos os gostos. A tranquila “Puntilla”, com uma onda extensa e muito boa para surfar de longboard e SUP e o místico e casca grossa  “El Gringo”, uma onda rápida e tubular que quebra  em cima de uma bancada de pedras, boa para surfistas experientes e corajosos bodyboarders.


                                



         Foi difícil deixar Arica, mas tínhamos ainda muitas ondas e oficinas pela frente no nosso amado Peru! Para nossa sorte uma parte muito especial de Arica não quis nos deixar ir “Así no más”  e Renée subiu na Kombica para nos acompanhar nesta aventura até Lima! Nos próximos posts contaremos como foram  os últimos 1.300 km  desta primeira etapa do Rekombinando, junto a esta super companheira de viagem!


Texto: Antonia Wallig
Fotos e frames: TZ Jamur e Márcio Machado

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

E a Viagem com a Lela Continua...



   Querida e parceira Gabriela parece que já se acostumou com o ritmo da “expedição”.  De um dia para outro mudamos de casa e ela fica faceira ao ver a nova cama, a nova cidade como ela mesma questiona: - Chegamos na nova cidade? Ver a cama é motivo de felicidade e pulos altos, quando dormimos na Kombi é diversão pura.


  Separo frutas e bolachinhas todos os dias para sair, no dia em que estávamos no surf Hostel de Porto Fino,  tínhamos cozinha, então, fomos no mercado e comprei feijão preto, arroz,  batatas e ovos prato predileto da Lela, isso rendeu dois dias de almoço gostoso e familiar. Os horários continuaram os mesmo, depois do almoço soninho, brincadeiras e pelas 21h hora de dormir. Na viagem esse horário mudou um pouco, pois se saímos para jantar ela vai junto e agora consegue dormir no restaurante enquanto jantamos.


      Nossa mascote virou motivo de felicidade do grupo e também o “termômetro” se está feliz todos estão, se está com sono ou fome igual e assim vamos. Ela aprendeu a gostar de cada um de uma forma. Os tios do carro de apoio ganharam apelidos carinhosos por ela, tio Tomate e o Tomatinho, dormiu agarrada com a kitie e chama sempre pela Tuca, que já passou poucas e boas com ela. Todos aprendem muito com a Lela inclusive eu e o pai dela que ficamos sempre atentos e dispostos a ensinar a ter liberdade com todos os limites.





      Algumas pérolas de Gabriela:

- Boa noite Gaiéia (Galera).
- Vamos Gaiéia...
- A Leila quer surfar  ... mamãe.
-                  Na arrumação do camping : - Quer ajuda Tomatinho?
      Na hora de passar parafina e montar as quilhas das pranchas : - A Leila quer ajudar.



Texto de Clarissa Del Fabbro
Fotos de Tz Jamur e Marcio Machado

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Por La Carretera. Atacama

   Saímos de ConCon  com o coração cheio, pelos amigos que fizemos e pelas ações que lá realizamos. Percebemos que as crianças do Chile são bem ativas, intensas, fortes, confiantes, entusiasmadas e alegres. Possuem um olhar curioso e uma vontade de aprender e experimentar sem medo. 
O caminho até a nossa próxima parada para oficinas – em Arica – foi “desbundante” como descreve o Neco, um dos professors, em seu diário. Passamos por um pequeno paraíso chamado Totorarillo, uma ponta dentro do mar, com água esverdeada e areia branca. 
   Lá acampamos e surfamos boas ondas, tanto esquerdas como direitas.Conversei com uma avó que também acampava e ouvi um relato que gostei muito. De que seu filho fazia questão que todos passassem as férias no camping, para que a única coisa conectada fosse a família, um momento para que eles pudessem se curtir e estar juntos.
   Depois partimos para a região de Atacama, as vegetações deram espaço à enormes dunas de areia vermelha, a água ficou escassa e a      paisagem minimalista. Nessa região o sol é diário, intenso e não dá espaço para chuvas. 
Com uma naturalidade necessária, a maioria das casa possui painéis solares como fonte de energia e usa a água de forma muito racionada, como um bem precioso.  
  Ficamos em Bahia Inglesa em uma casinha e surfamos Pulpo, uma boa direita em cima das pedras. Ficamos ali dois dias e partimos para um hostel em Porto Fino, onde pegamos ondas mais cavadas e maiores. Depois de 3 dias fomos em direção de Arica, acampamos em Rio Loa, uma praia deserta no meio do caminho, onde celebramos a nossa viagem com uma fogueira e violão.
   Passamos por Iquique, porém não demos sorte de pegar boas ondas. Na falta de ondas, nos juntamos com a Vertical Surf Shop e montamos no calçadão um tubo com uma lona azul para ser “surfado” de skate. Chamamos a criançada e a diversão foi tanta quanto a de dentro d’água.
  Também conhecemos a escola de surf Academia de Surf de Bellavista que nos contou que a região foi transformada pelo esporte, que levou uma “buena onda”, como dizem, para o lugar que antes era vandalizado. Acabou acontecendo um grafite em um muro na beira do mar de forma muito solta e espontânea com os alunos da escola conforme iam saindo do mar.
   Pela falta de ondas nos mandamos logo para Arica, chegamos lá e encontramos uma onda toda cheia de misticismos e ressalvas, El Gringo. Uma onda tubular perfeita que quebra em cima de pedras, bem rasa. Mas aí é outra história, que iremos contar logo mais...
Fotos Tz Jamur e Márcio Machado
Texto Christie MeditsCh   
 






   

 








segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sobre o Chile e resiliência



Nos impressionou muito aqui no Chile a resiliência das pessoas. As comunidades estão a qualquer momento sujeitas a desastres naturais como terremotos, tsunamis ou inundações. Vimos, por exemplo a cidade de Chañaral que passou por um “aluvion” (inundação) em março de 2015 e ainda está se recuperando do choque. A cidade fica muito próxima a Porto Fino um lugar incrível que surfamos e ao conversar com algumas pessoas que perderam suas casas ou negócios ficamos admiradas pela maneira como estão sempre dispostos a para passar pela situação de reconstrução de tudo o que foi destruído. Esta disposição, ou estado de prontidão, vem da necessidade de sobrevivência e de ter  esperança na vida. Esta situação nunca vai mudar, não é uma condição social, é uma condição natural proveniente da localização geográfica do país.


Muitos lugares do mundo são assim, no Brasil talvez a ameaça de desastres naturais é menos iminente do que no Chile, mas  neste momento,  Porto Alegre, por exemplo passou por uma grande chuva que deixou a cidade sem luz e água há dias, derrubou árvores, construções, carros e deixou muitos desabrigados. 
No caso do  Chile, nos parece que este estado de alerta constante  dá ao povo chileno uma característica que gostamos muito, são pessoas calmas e ao mesmo tempo muito ativas, preparadas para encarar o que der e vier.
Esta passagem do livro “Como Mudar o Mundo” de John Paul Flintoff se identifica muito com esta capacidade resiliente dos chilenos:
"Ter uma existência autêntica é aceitar nossa morte inevitável e a insignificância cósmica - e decidir viver com objetivos mesmo assim". 
Em situações assim  podem acontecer dois extremos, o caos e a violência ficam a flor da pele ou a solidariedade brota  em escala máxima. Quando é assim, as pessoas começam a oferecer suas habilidades para ajudar, reconstruir, abrigar, se criam plataformas colaborativas para oferecer serviços, as pessoas se conectam pela necessidade de sobreviver e reerguer seus sonhos de maneira mais coletiva.
Fica aqui a nossa reflexão e nossos melhores pensamentos para  os amigos e família de Porto Alegre.

            Saudamos este país que tem recebido o Rekombinando com tanto amor e entusiasmo. 
Viva Chile, salve os hermanos chilenos! Estamos aprendendo muito com vocês.