Chegamos em
Pichilemu, uma praia mais ao sul de Santiago. Ao avistarmos o Pacífico depois
de tanta estrada sentimos aquela emoção. Este é o nosso verdadeiro destino,
para onde a nossa bússola sempre nos leva, água salgada. Os professors* não passaram por
aqui, mas escolhemos conhecer este lugar pois ouvimos muito falar da onda de
Punta de Lobos, conhecida por quebrar muito grande no inverno e estar entre as maiores ondas do Planeta.
Ao chegar no
mar lemos a passagem do diário do Neco, um dos “professors” que fazia o relato
da viagem. Nesta parte ele conta como
foi a primeira vez que avistaram o Pacifico
O pueblo de Pichilemu é lindo, chegamos num domingo final de tarde e a
cidade estava bem movimentada, tivemos sorte e encontramos um camping para
ficar à beira de uma lagoa. Montamos acampamento debaixo dos pinheiros e
cedros, em meio a natureza. Uma delícia!
O Pacifico é mesmo “desbundante”, como diz o Néco no diário. Cheiro de
mar intenso, algas corpulentas vão e vem no balanço das ondas agarradas às
pedras, pássaros pescadores, pedras grandes e imponentes compõe as bancadas
aonde quebram as ondas. Uma energia contagiante. A água é suuuper gelada e no
primeiro surfe em Punta de Lobos sentimos o cansaço da viagem e do frio. No primeiro dia o mar tinha aproximadamente 3
pés (1m), o que não é muito em tamanho, mas aqui o mar tem uma força diferente,
muita água em movimento.
Conhecemos a Escola de surf do Marcelo, Natural Surf, que fica bem na
beira da praia e ele nos recebeu muito bem, ele estava organizando um curso
para instrutores de surf de Pichilemu, junto com o Renato, professor de surf de
Arica (cidade que fica bem ao norte do Chile) e nos convidaram para participar.
Fizemos a parte de primeiros socorros do curso, que será muito importante para
nossa viagem. Neste curso conhecemos um monte de gente legal! O povo do Chile é
super amável, tranquilo e ativo ao mesmo tempo, uma galera cheia de energia.
Encontramos também o Patrick, um artista da Bélgica que mora em Pichilemu há mais de 15 anos e
junta suas referências belgas com inspirações que vem do surf e da cultura
local para criar seus desenhos. E nos sentimos em casa quando chegamos no Zeus,
um centro de permacultura e desenvolvimento pessoal criado por uma galera que
se juntou com o propósito de serem os
“Guardiães do Mar e da Terra”. Eles nos contaram que o surfe no Chile é algo mais recente, nasceu há pouco mais que
quarenta anos. Entendemos por que os “professors” na época da viagem deles não
surfaram muito no Chile, pelo frio e porque os lugares para surfar eram ainda
pouco conhecidos.
Caminhando pela praia conhecemos o Omar, um coletor de algas chamadas cochayuyo,
ele nos contou várias histórias de pesca e da cultura da região, a sua relação
com o oceano é muito profunda. Omar nos deixou uma mensagem muito especial:
“Sigan su camino con amor y respecto pues és el lugar que nos recibe.”
Neste momento
sentimos que havíamos sido recebidas por Pichilemu e quase que não conseguimos
ir embora. De coração pleno seguimos rumo ao norte, Viña del Mar, aonde faremos
as primeiras oficinas do Rekombinando junto
ao Projeto Temahatu Surf Social.
*professors são os quatro amigos que fizeram a viagem de Porto Alegre até a Califórnia em 1976 e que inspiraram o Rekombinando , são eles Antonio Chula, Neco Corbetta, João Wallig e Paulo Tupinambá. Os chamamos assim pois suas histórias de vida nos ensinam muito.
Texto: Antonia Wallig
Fotos: Tz Jamur
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